quarta-feira, fevereiro 22, 2006

estádio emocional

perguntou-me se já tinha visto o golo.
sabia que tinha estado na bancada mas não há qualquer engano.
no estádio não se vê o golo, sente-se.
o que faz toda a diferença.

terça-feira, fevereiro 21, 2006

projecto de uma vida (se para tanto houver tempo)

depois da referência a william blake têm chovido perguntas.
pronto, têm pingado.
tudo bem, admito, só eu é que ligo a isto.
apesar da vossa falta de interesse, fica aqui a quadra do início de “auguries of innocence”.

"To see a World in a Grain of Sand
And a Heaven in a Wild Flower
Hold Infinity in the palm of your hand
And Eternity in an hour"

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

marginal

o que está in é estar out

fruta da época


gosto de árvores

do princípio ao fim.

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

ai meu amigo William Blake

a post a day
keeps sanity away

nostalgia antes de tempo

e o msn fez a palavra surgir descoberta,
em corpo,
nos nossos monitores

e vimos que a não sabermos o que dizer,
juntamos não sabermos como o dizer

contudo o momento é tão curto,
tão próximo da extinção

que já tenho presente a saudade futura,
do tempo que terei a memoria dessa época feliz

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

gente assim


e penso que realmente enfureçem muitos muçulmanos.

Go(o)d advise


Não pensava escrever sobre assuntos sérios, actualidades, ou de uma forma explícita.
O plano, como se pode ver, era manter este bloco com frases curtas, em que algum gozo de linguagem sustentasse uma impressão de aquilo que julgo peculiar em mim. O objectivo é exagerado e admito que estava falhado à partida. Só a satisfação que tiro dessas pequenas tiradas (a que se junta a instigação de uma amiga) me levou a faze-lo. Surgiram contudo acontecimentos que me obrigam a abandonar a linha pretendida.

A decisão de escrever a minha opinião sobre a polémica dos desenhos humorísticos obriga a um artigo mais longo. Embora por coincidência o poema de malcolm lowry posto antes da ignorância e estupidez deflagrar, seja de uma forma elegante muito apropriado ao momento, tenho de ser absolutamente explícito.
Com ou sem repressão islâmica este texto pode vir a desaparecer, se e quando achar que o momento o pede.


Tenho uma dúvida que não vejo resolvida.

Primeira hipótese; os desenhos foram censurados nos países muçulmanos.
Se os desenhos não foram publicados protestam contra quê?
Protestam por lhes ter sido dito que uma ofensa tinha sido cometida contra eles?
Talvez, mas a embaixada britânica foi atacada em Teerão e os jornais britânicos não os publicaram.
Quando não se tem aceso à informação em primeira-mão, fica-se refém das intenções e agendas de outros, que ficam com carta branca para fazerem o que entendem ser melhor no seu interesse pessoal. Esta é aliás a nota em que se deveria centrar todo o debate, a instrumentalização da opinião por parte de execráveis líderes religiosos, que na verdade tem uma agenda politica, e bem terrena.


Segunda hipótese; os desenhos foram publicados e as pessoas viram-nos
Os manifestantes muçulmanos protestam efectivamente contra a publicação dos desenhos (o que não acredito), portanto viram-nos publicados.
Se os jornais de matriz muçulmana publicaram as representações de Maomé, não incorrem eles próprios nessa heresia?
Se os desenhos forem publicados (o que espero que sim) é uma demonstração do exercício da liberdade de expressão que querem proibir.
Essa liberdade é ironicamente, um exclusivo dos muçulmanos, dado que na maior parte dos países europeus a publicação foi proibida, muitas vezes a nível editorial, outras por pressão dos accionistas ou por pressão governamental.
O ódio que queiram ter aos europeus é uma prerrogativa desses povos, o que é óbvio é que essa opinião vai legitimamente alterar a percepção que temos desses povos.




Mas o que me desagradou mais foi a reacção dos jornais e políticos europeus, que mais uma vez vendem o que não é deles, para tentarem ficar com o que não conseguem.
É que a liberdade de expressão não é uma lei que seja resultante nem dos parlamentos, nem dos governos, é uma obrigarão que lhes é imposta, pelas constituições e pelos povos, de onde emana o poder que têm. E o que tentam conseguir? O apaziguamento dos radicais, quando deviam estar a apoiar os interlocutores moderados e racionais. è que esta gente também é um problema nos países em que actuam.

Primeiro argumento para a censura dos nossos políticos à informação a que temos direito. A publicação dos comentários ofensivos levará à crispação entre muçulmanos e não-moçulmanos.
Dado que os desenhos não originaram qualquer manifestação de violência sobre comunidades muçulmanas na Europa, e levaram à violência sobre europeus quando foram publicados nos outros países, onde podia fazer sentido (e não faz), serem proibidos era lá, não na Europa.

Segundo argumento. Deve haver liberdade de expressão mas (e é neste mas que está o diabo) não se pode ofender pessoas, nem atacar as suas convicções.
Pois é precisamente para que se possa contrariar e “atacar” as convicções dos outros, que é necessária a liberdade de expressão. Que liberdade é essa, em que só se pode dizer o que agrada ao visado. Se houve dolo ou dano, leve-se a tribunal o prevaricador. Os estados não têm de pedir desculpa, porque nem assumem a opinião dos seus cidadãos, que não controlam, nem negam o direito individual a que tenha uma visão distinta da política governamental. Não me lembro (nem o devem fazer) que os egípcios ou sauditas tenham pedido desculpa por os seus nacionais terem realizado o ataque de 11 de Setembro.







Há contudo um ponto de vista ainda mais insidioso, que é fazer acreditar que estes desenhos fazem os europeus terem pior opinião dos seguidores de Maomé.
Isso é absurdo, os desenhos são um sintoma, da péssima opinião que as pessoas têm dos militantes e não dos praticantes do islamismo.
Aliás curiosamente (e isto os nossos media não informaram) os desenhos acompanhavam um artigo que dizia que era difícil encontrar desenhadores para ilustrar livros infantis que se destinassem a crianças islâmicas, por terem medo de represálias de militantes. Isto é uma profecia que se auto realiza, tal como o argumento que é insultuoso que os muçulmanos sejam vistos como violentos e para o provar, incendeiam embaixadas e agridem cidadãos sem que estes lhes tenham feito qualquer ofensa.

Há algumas coisas que me alegram de ser português. Que tenham estado quatrocentas pessoas numa manifestação da extrema-direita é algo que me agrada, penso que se fosse proibida estariam muitas mais pessoas. Tal como me agrada que seja tão fácil juntar líderes cristãos, muçulmanos, judeus e outros. Tenho orgulho que gnósticos e agnósticos em Portugal vejam a sua vida religiosa como fonte de enriquecimento pessoal, opções que as fazem serem mais ambiciosas e corajosas, infelizmente não é assim no mundo inteiro.

Há crimes cometidos em nome de Deus e isso não me leva a ter pior opinião do dito Deus, mas tenho pior opinião dos seus seguidores que têm essa visão violenta ou injusta.
Por isso estes desenhos humorísticos nem são mentira, porque efectivamente há bombistas em nome de Ala, ou de Maomé (que não é deus, é um profeta, e por isso não é impossível de representar) porque efectivamente há quem diga que o martírio leva ao paraíso onde há virgens à espera. O que não se pode acreditar é que isso signifique que todos os fiéis islâmicos sejam assim (é patético, arranjar duas pessoas iguais é difícil, quanto mais um adjectivo que sirva para descrever um bilião de pessoas), tal como não se pode atacar os europeus por uma opinião expressa por doze indivíduos na Dinamarca.

A última questão é a segurança dos indivíduos que estiveram envolvidos nesta história. Os editores que foram despedidos por terem publicado devem apresentar acções em tribunais de trabalho contra os patrões, e no tribunal dos direitos humanos. Estão a ser alvo de um processo por delito de opinião.
Os doze desenhadores, devem processar individualmente todos os líderes, religiosos ou não, que pediram a sua condenação e execução, porque incitar à violência é crime, e é um dever dos estados proteger os cidadãos de outros que os ameacem.
É que há alguns estados que são mais justos que outros, e no que respeita a justiça, nos estados europeus tem-se o direito à defesa. O que não é verdade em tantos outros.

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

tantas vezes

Malcolm Lowry [Stange Type]

I wrote: in the dark cavern of our birth.
The printer had it tavern, which seems better:
But herein lies the subject of our mirth,
Since on the next page death appears as dearth.
So it may be that God's word was distraction,
Which to our strange type appears destruction,
Which is bitter.

1962