sexta-feira, junho 29, 2007

ainda por aí apareço

Geralmente não entro em cadeias de Internet. Não tenho, entendam, qualquer opinião sobre correntes de nomeações, ligações reenviadas, ou qualquer outra dessas tarefas de multiplicação de contactos.
Não é aversão, é falta de inclusão. É que não estou convencido que seja uma flor ou uma pintura, não conheço muitos blogs e geralmente não tenho opinião sobre o que me enviam.

Não é o caso desta provocação, e correndo o risco de a fazer incorrer num delito ao obter seis retornos em vez de cinco, vou responder. Como não conheço as regras destas tarefas não sei que castigos horríveis vais sofrer, sei que me vou juntar a ti, porque também não vou nomear cinco pessoas. Mas isto é mesmo assim, quem anda à chuva molha-se.

O repto, ou antes, o réptil, essa coisa rasteira que se aproxima sem que dê conta foi:
"...indicar 5 livros que tenham sido referenciais de alguma forma e ainda, qual ou quais estão em leitura actual. Depois, é só indicar 5 blogs a serem desafiados nos mesmos termos!"

As pessoas que me conhecem sabem como os livros são uma coisa grande na minha vida, podem por isso estar à espera que revele algo precioso ou pessoalíssimo. Por mim podem continuar à espera.

Duvido muito que haja livros que sejam referências na minha vida. As maiores referências, o que mais me construiu, foram pessoas que poucos ou nenhum livro leram.
Os livros não me ensinam nada, não tiro ideias, não me revejo neles. É precisamente o contrário, abrem uma janela para mundos a que não pertenço, que não quase nunca entendo, é visitar nações estrangeiras, pela módica quantia de umas dúzias de euros. E ainda há quem ache os livros caros…
Na verdade a maior parte das vezes apaziguam uma sensibilidade inquieta, mais uma necessidade da linguagem que da historia, do evento.

Os livros que vou nomear, e como é difícil nomear só cinco, são os que acho que mais me satisfazem, por isso os que considero que melhor me representam. São mais um conselho para serem lidos que para me entenderem.


Isto começa mal, que logo o primeiro é batota. É a uma colectânea, ou seja, são pedaços arrancados de muitos livros e metidos ali, para satisfação do leitor preguiçoso ou ignorante. Como sou ambos adoro a ideia. Chama-se “Antologia Pessoal de Poesia Portuguesa” e o único inconveniente de ser de Eugénio de Andrade é que por isso não tem poemas de Eugénio de Andrade. É uma falha que se perdoa.
As antologias são uma espécie de páginas amarelas, e como esta não é feita por um historiador da língua, mas por um poeta activo, o único crivo para a inclusão foi o seu gosto, a capacidade daqueles poemas lhe agradarem. Imaginem assim, ainda é umas páginas amarelas, mas agora só com lojas que te tenham tratado bem.


Não entres tão depressa nessa noite escura” de António Lobo Antunes é a lágrima mais lenta que já li. É tão bom que não sei como é que se pode dizer que é triste, é como um cipreste de Van Gogh, o tema pode ser triste, estar perante ele é uma enorme alegria.
Ao fim de muito tempo finalmente lá teve coragem de escrever por baixo do título “poema”. Já escrevi sobre ele, o que é importante dizer é que não se deve começar a ler Lobo Antunes por aqui. O ideal é começar pelo inicio, podem saltar-se etapas, mas não se deve começa por nada depois do “Tratado das Paixões da Alma” – eu sabia que conseguia escrever aqui o melhor titulo de sempre -


O terceiro é de Oscar Wilde, “The Picture of Dorian Gray”.
Imaginem o molotof mais leve que já comeram, as palavras de Wilde são exactamente assim, a desfazerem-se quase sem que se lhes toque, a ficar só o sabor.
Se puderem deve ser lido em inglês, é tão fluente, tão simples, que parece que se lê sozinho. Parece tão fácil que se fica a pensar porque é que não escreve toda a gente assim, a verdade é que é tão difícil que mais ninguém escreve assim.
Li este livro porque não tinha gostado de um livro dele que me tinham emprestado, era um ensaio sobre estética, e não concordando com a sua opinião, era óbvio que ele escrevia bem. Estava traduzido para português, mas percebia-se bem o ritmo da escrita, o rigor e clareza da linguagem. Fiquei curioso e fui recompensado.
A verdade é que este livro é um ensaio sobre estética, sendo ele próprio um exercício de estética. É como se a receita e o bolo fossem a mesma coisa – de chocolate, não é Sarita?


A ironia é algo que aprecio, por isso aqui vai, o livro seguinte é o máximo da concentração, da síntese. O seu autor, o expoente máximo da dispersão, da digressão, da deriva. O livro é “Mensagem” o autor Fernando Pessoa.
Ele próprio explicou bem o caminho, primeiro a tese, a seguir a antítese para depois se construir a síntese. Por isso quando parecia que estava a ir para lado nenhum, na realidade, estava apenas a ir para um lado onde os outros não o conseguiam seguir. Estavam, se calhar ainda estamos todos muito atrás dele. Se Oscar Wild é o campeão da estética, Pessoa é o da ética.
Depois de ler livros infantis e juvenis, por volta dos doze perdi o interesse pela literatura, foi a poesia de Pessoa que me reabilitou para a literatura, o que ali estava era novamente empolgante, e aos quinze, retomei a leitura.
Acho que escrevo da maneira que escrevo porque li quase tudo de Pessoa, quando chegou a altura de estuda-lo na escola achava estranho, o que chamavam de estilo, ou influência do inglês, porque era praticamente assim que eu escrevia. Muito pior, claro, mas com os mesmos tempos, os mesmos tiques. Entretanto, porque a vida é tantas vezes uma corruptela do que nos acontece, já não é tanto assim.


O último livro é provavelmente o mais pessoal, e nem é bem um livro, no sentido em que não foi escrito pelo seu autor. Chama-se “Vida conversável” e a vida que lá está é a da Agostinho da Silva. É a transcrição de uma série de conversas naquilo que se pode considerar um processo mental em exercício, é o que uma mente faz perante uma série de questões que lhe são colocadas.
Os ingleses têm uma expressão muito feliz que diz “think outside the box”, estamos quase sempre a pensar dentro de uma caixa, e depois, para fazer o que é realmente importante, temos de sair dessa caixa. O que Agostinho da Silva diz e escreve rebenta com as caixas, manda tudo para o papelão, volta a fazer uma dúzia de caixas, só para as voltar a partir e assim sucessivamente. O que se tira dele é um processo mental de inquirir, de preferir perguntas a respostas.
Como ele tão bem diz “discípulos, se tenho alguns são os aqueles que se me opõem, porque se ensino alguma coisa é um espírito de contradizer e de questionar os seus mestres.”


Afinal ainda há um passageiro clandestino. O bilhete para entrar aqui era ser um dos meus autores preferidos, Jorge de Sena não é seguramente um deles. O livro que embarcou nesta lista sem ser convidado foi o “físico prodigioso”. Não gostar deste livro pode ser encarado por mim como uma ofensa pessoal, não me deve ser revelado, não há ali nada para não se gostar.


Conheço poucos blogs, conheço poucas pessoas que leiam, aliás conheço poucas pessoas, ponto final. Não sei se há sequer cinco pessoas que vejam este blog, e parado como está e tão extensa a entrada, nem cinco chegaram até ao fim. O desafio vai ser feito às três amigas que juntamente com a Sarita tem feito os blogs que gosto sempre de acompanhar.
Mirandaeeu, que tem uma inteligência calma que é sempre um prazer ver em acção no seu discurso e na escolha do que coloca no blog.
Vazio, que não sendo nada calma é sempre uma surpresa agradável ver as voltas que dá, a inquietude é uma parte grande do seu interesse.
Radioflyur, que tem o dom raro de saber olhar, a espessura com que vê as coisas e a sensibilidade que tem faz dela uma pessoa rara.

Com estes elogios todos dificultei-vos a vida, a fasquia está alta. Se aceitarem o desafio espero que se divirtam como eu.

Os livros que estou a ler é o "the red badge of courage" de Stephen Crane e "Rilkeana" de Ana Hatherly. Não Tenho ainda qualquer opinião sobre os livros.

4 Comments:

Blogger Sarita said...

Por isso � que eu queria que tu respondesses... ali�s, foste daquelas pessoas que eu imediatamente pensei para me responder a isso... � que sabia que a resposta ia ser interessante de ler... a minha d�vida era se continuavas a ir molhar a cara por aquelas bandas!
Espero que estejas bem!
Continuo a passar por aqui... quanto a mim, ainda que nem sempre completamente a descoberto, indo � chuva consegues ir sabendo mais ou menos o que se vai passando na minha vida... h� sempre uns hiatos e umas inc�gnitas mas doutra forma nem tinha gra�a!
Beijinhos

junho 29, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Oh, como gosto de ler o que tu escreves.
Fiquei surpreendida por nas tuas referências encontrar algumas das minhas sem falarmos destes assuntos há uns bons anos. É divertido e bom perceber que há coisas que nunca mudam.
Parabéns pelo blog, tenhopena que não escrevas mais.

Sandra

julho 02, 2007  
Blogger mir said...

Mmm...vou pensar "calmamente" sobre o assunto! :)
entretanto, estou como a Sandra (coment. acima) podes ir escrevendo!!!

julho 06, 2007  
Blogger SEVE said...

???????????????????????????Os livros representam tudo na minha vida, os livros não são nada na minha vida, gostei do livro X mas não tenho opinião sobre o livro X, conheço muitas pessoas não conheço ninguém.....
brinquemos..........????????????????????????????????????

agosto 05, 2011  

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